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O MUNDO À VOLTA DA ÁRVORE

por LA DIVA, em 22.08.14

À volta da árvore, os andaimes iam sendo desmontados.

 

A mini-mini casa da Raquel, pouco mais de 1.000€, escondia-se sob as folhas verdes. Quem passasse, e não pertencesse ao bairro, julgaria que a escada em espiral à volta do tronco do grande plátano fazia parte do equipamento do jardim das crianças.

 

O problema seria quando as folhas caíssem e a casa ficasse à vista de todos. Mas a Raquel garante que é apenas uma casa pequenina de verão. Um ninho temporário, que ela também é ave de arribação. Mas também diz que pode vir a tornar-se um estúdio ou um retiro, um sítio para onde ela vai e o mundo fica do lado de fora.

 

Mas acho que o mundo não vai aceitar ficar do lado de fora.

Hoje, tal como ontem, os jornalistas andaram a farejar e não arredaram pé. A Raquel recusou-se a falar com eles, mas não conseguiu impedi-los de tirar fotografias. Já apareceu uma carrinha de reportagem da televisão. A Raquel atirou-lhe um martelo, que veio partir o para-brisas. O cameraman insultou-a e chamou-lhe ‘cabra’. Ela gravou tudo no telemóvel e diz que põe o vídeo na net. O vídeo mostra também uma jornalista a chamar-lhe nomes e a curva que o telemóvel deu quando saltou das mãos da Raquel e foi parar ao chão. Foi na altura em que a jornalista lhe deu uma bofetada e lhe gritou ‘grande vaca, dou cabo de ti se me tiras alguma fotografia’. Isto é hilariante, porque era isso mesmo que aqueles jornalistas ali estavam a fazer, a filmar e a tirar fotografias à Raquel e à casa dela.

 

Depois alguém chamou a polícia porque viu um grande ajuntamento e havia gritaria. As pessoas começam a ter medo de ajuntamentos. A Raquel provou que tinha autorização para construir uma casa de madeira na árvore, porque a árvore estava num terreno que tinha dono e o dono tinha dado autorização. A polícia disse que nada podia fazer, quer dizer, tirar a Raquel dali sem ordem de um juiz, mas se ela provocasse desacatos, aí sim, eles levá-la-iam na ramona.

 

O homem que no dia anterior tinha chamado os jornalistas, para lhes dizer que havia uma mulher na árvore em frente da janela do andar onde ele habitava e que o perturbava, passou o dia todo a espreitar por detrás dos cortinados e a filmar tudo com o telemóvel.

 

Mas acho que a Raquel vai saber lidar com tudo isto.

O que me preocupa é outra coisa.

É que conheço-a muito bem. E sei que ela já se apaixonou outra vez.

E vai desiludir-se novamente.

Nunca desistimos, não é? Mas nunca desistimos do quê?

Do sexo? Dos afetos? Do medo? Da decepção?

 

A Raquel, que já viu vezes sem conta o filme de Terrence Malick, Árvore da Vida, gosta de o citar, dizendo a rir:

 

Unless you love, your life will flash by.

 

Mas, precisamente, o amor é o que irá dar cabo da vida da Raquel.

Ou talvez não, sei lá, a vida é tão imprevisível.

 

publicado às 14:21


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